quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Haruki Murakami

"Quando corro digo a mim mesmo para pensar em um rio. E nuvens. Mas em essência não estou pensando em uma coisa. Tudo que faço é continuar correndo em meu próprio vácuo aconchegante, caseiro, meu silêncio nostálgico. E isso é uma coisa maravilhosa. Digam as pessoas o que disserem...

...Apenas corro. Corro num vácuo. Ou talvez eu deva me colocar de outra forma: corro a fim de conquistar um vácuo. Mas, como seria de se esperar, um pensamento ocasional vai invadir esse vácuo. A cabeça de uma pessoa não consegue se manter um vazio completo. As emoções humanas não são fortes ou consistentes o bastante para sustentar um vácuo. O que quero dizer é que o tipo de pensamentos e ideias que invadem minhas emoções quando corro permanece subordinado a esse vácuo. Na falta de conteúdo, eles não passam de pensamentos aleatórios que giram em torno desse vácuo central." Haruki Murakami


É confortante perceber que correr pode ser única e simplesmente correr. Dar passos rápidos, sentir o vento no rosto, o suor, o cansaço, o prazer... correr. Em qualquer velocidade, por qualquer razão, ou razão nenhuma. Entrar num mundo só meu e conhecê-lo cada vez melhor.

A corrida preenche o meu vazio, ou os meus vazios. Afasta os meus medos, colocando-os em perspectiva. A corrida me faz ser mais humilde, esfregando na cara toda a fragilidade do meu corpo e me dando a chance de voltar mais forte, diferente.

Quando eu corro, entro em outro mundo, onde todas as minhas teorias e lógicas tem sentido. Quando eu corro, eu me entendo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Yoga, ansiedade e corrida

Mudei de academia recentemente e agora tenho uma gama maior de aulas e práticas para experimentar. Assim, fico entretida enquanto espero a volta da corrida. Ultimamente, tenho procurado maneiras de controlar a minha ansiedade e de continuar motivada, indo treinar regularmente. Outro dia, pela primeira vez, fiz uma aula de yoga. Comecei sem querer, porque tinha tempo livre antes da aula de bike e queria experimentar algo novo. O clima na sala era muito relaxante, a energia muito leve, me senti bem logo ao entrar. Eu era a única que não sabia do que a professora estava falando quando ela indicava as posições e movimentos que deveríamos fazer, mas isso não foi problema. Ela foi super atenciosa comigo e acompanhou cada movimento meu. Me senti desajeitada, mas a primeira lição que professora me deu naquela manhã foi: não importa a qualidade da sua postura, o que importa é que você esteja tentando fazer da melhor maneira possível. A qualidade melhora com o tempo. Só esta pequena frase já me deixou ainda mais relaxada e me fez aproveitar não só a aula, mas o dia inteiro melhor. Depois, durante um exercício de respiração, comecei a chorar, sem querer. Uma emoção muito forte, que não era ruim, me inundou e não consegui me conter. Chorei no meio da aula. Mais uma vez, a professora me tranquilizou, me pediu que aceitasse a minha própria reação e disse que com o tempo, eu conseguiria entender melhor o que acontece comigo durante os exercícios. Entendi ali que, mais do que uma atenção aos movimentos e um subsídio à disciplina, a yoga estimula a criação de uma consciência de nós mesmos, não só durante a aula, mas em todos os momentos. O objetivo principal é aprender a nos perceber a toda hora e, assim, consertar o que for necessário para que restabeleçamos um equilíbrio, ou um conforto dentro de nós mesmos. Finalmente entendi porque dizem que a yoga faz tão bem aos corredores. É uma maneira de nos conhecermos profundamente e isso é fundamental para uma vida longa e próspera na corrida. No dia seguinte, voltei à aula de yoga. Não foi tão pacífica quanto a do dia anterior, fiquei dolorida e tive mais dificuldade ainda de fazer os exercícios mas, em compensação, saí da sala revigorada. E a dor do dia seguinte, só me fez lembrar da respiração e dos exercícios de auto-conhecimento. Resultado: hoje estou contando os minutos até a hora da próxima aula. E, para continuar o experimento, vou a noite, para ver os efeitos da yoga em mim antes de dormir.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Lesão: os estágios do luto

 "The sense of loss an athlete feels when injured can be very similar to the other types of mourning or grief that occur in our lives," says Diane Wiese-Bjornstal, Ph.D., associate professor of kinesiology at the University of Minnesota and a leading researcher of injury psychology. "It's a huge sense of loss that you feel."

Vi este artigo no site da Runner's World hoje de manhã e não resisti, tive que colocá-lo aqui. Eu queria ter lido isso antes. Mas, de qualquer maneira, acho que é natural que passemos por todos estes estágios de luto, principalmente na primeira lesão. O engraçado, hoje, é ver cada uma das minhas reações postadas neste blog. A Negação (26/04/2010), A Raiva (04/05/2010), A Compensação (11/05/2010), A Depressão (20/05/2010 e 28/05/2010) e, finalmente, a Aceitação (04/08/2010). Segundo o artigo, eu acredito que, depois do último post, estou entrando no estágio da aceitação. Demorou, mas agora é muito menos difícil (porque eu ainda sinto que ficar assim nunca vai ser fácil) aceitar que eu me machuquei e entender que vou voltar a correr e, um dia, posso até esquecer que fiquei todo esse tempo sem a corrida. Normalmente eu diria "parada" mas a verdade é que não fiquei parada. Por mais que eu sinta que tudo o que venho fazendo seja 'substituto', não fiquei parada. E foi isso que acabei de entender, depois de ler o artigo. Isso e o fato de que acontece de maneira muito similar para todos os corredores. Eu também senti que não fazia mais parte da comunidade corredora, que não tinha nem sequer o direito de entrar no site da Runner's World ou de falar "eu corro". Mas a verdade é que ser corredor é muito mais do que simplesmente correr. E isso não pode ser apagado por alguns meses 'parada'.

Leia o artigo

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Será que nada acontece por acaso?

Quase dois meses depois daquele exame eu já posso voltar a escrever sem medo de ter um acesso de raiva ou de começar a chorar no meio do texto. Agora eu já consegui aceitar o fato de que esse NÃO vai ser o ano da minha primeira maratona e de que vou ter que mudar os planos da minha lua de mel por causa dessa lesão. Ontem fui a outro médico, especialista no assunto das fraturas por stress e finalmente entendi o que está acontecendo. As coisas são diferentes do que eu tinha imaiginado, são mais simples e poderiam ter sido tratadas mais rapidamente. Apesar dessa informação, eu não fiquei brava, imaginando que poderia ter me poupado de meses sem correr e de muita angústia. O que senti foi um alívio enorme por finalmente saber o que realmente aconteceu e o que vai acontecer daqui pra frente. Eu ainda tenho um mês de recuperação antes de voltar aos treinos, mas depois de tudo isso, depois desses 4 meses parada, eu comecei a encarar as coisas de maneira diferente. Eu tenho certeza que nenhum treino meu será igual daqui pra frente. Por alguma razão, a cobrança, o medo de falhar e o peso da obrigação parecem ter se dissipado nessas semanas e eu consigo ver mais claramente o porque da minha corrida e os resultados que ela me traz. Antes, eu só prestava atenção nos resultados físicos e aparentes, não parei nem por um segundo para avaliar as consequencias psicológicas e sociais dessa minha atividade. Hoje eu entendi que correr, para mim, tem muito mais a ver com a cabeça e com a vida social do que com os resultados físicos. Claro que esses também me são importantes, mas eles são reflexos da diminuição da minha ansiedade, dos amigos que fiz nas pistas, da alimentação que sigo para completar minhas provas, da adrenalina liberada a cada passada e tudo mais que faz parte deste universo. Talvez esse tenha sido o principal motivo da história toda... da parada, da lesão. Talvez eu estivesse realmente precisando de tempo para olhar para o lado e perceber melhor o mundo à minha volta, para decidir o que eu realmente quero manter e o que preciso mudar. Eu, sinceramente, acho que estava cansada demais para perceber os sinais à minha volta. Ou, para os menos crentes, eu simplesmente não tinha forças para mudar o que não estava me fazendo bem. O que quer que seja, acho que finalmente estou conseguindo colocar esse quebra-cabeça no lugar e organizar a minha vida e minhas idéias. Tudo bem que agora, nesse exato momento, tudo parece mais bagunçado do que antes, mas as arrumações são sempre assim, não são? Precisamos parar, tirar tudo o que tiver dentro do armário (ou gaveta, ou o que quer que seja), revirar, escolher o que fica e o que vai embora, para depois colocar só as coisas importantes, úteis, novas e limpas no lugar.