quinta-feira, 4 de março de 2010

Obrigada, Rodolfo.

Ganhei um livro do Lá ontem a noite. Um livro do Rodolfo Lucena, um ultramaratonista e colunista da Folha. Comecei a ler sem compromisso e me surpreendi. Eu tenho a forte suspeita de que ele escreve os textos logo quando volta dos treinos, não é possível. Ele descreve exatamente o que eu sinto depois de uma prova longa ou de um treino duro. É uma sensação diferente, de controle e libertação ao mesmo tempo. De exaustão e euforia. Não dá para explicar. A cada frase do livro, eu ficava mais grata e orgulhosa de ter dado as minhas primeiras passadas e, mais do que isso, de ter dado as passadas seguintes, de ainda não ter parado. Senti que apesar de ter preguiça, de sofrer, de abrir mão de muitas coisas, como horas a mais de sono e algumas noites de festa com os amigos, eu descobri um outro universo. Descobri um mundo que eu achava que era só meu, mas que tive a certeza, ontem a noite, lendo as primeiras páginas do Rodolfo, que é de uma série de pessoas que compartilham as minhas escolhas. Em um determinado momento, ele escreve que, quando corremos, estamos blindados, mais protegidos do que se estivéssemos andando, e temos o controle do nosso corpo, vamos para onde quisermos e voltamos quando nos bem entender. E esse é um sentimento completamente diferente de qualquer outro. Os meus quilômetros são um encontro comigo mesma, uma maneira de me conhecer melhor, de me organizar e de colocar para fora todo o resto do mundo. As minhas corridas são momentos só meus, que eu posso decidir se quero compartilhar ou não. Posso seguir sozinha ou posso deixar alguém entrar. É difícil explicar. Eu só sei que, depois da minha primeira medalha (numa prova de 10km), a minha maneira de ver o mundo e de me ver mudou. E eu fui mais feliz.
As palavras do Rodolfo ontem me relembraram tudo isso, me trouxeram de volta o sentimento perdido no meio da cobrança das planilhas e da 'obrigação' de cumprir as tabelas. Lembrei porque eu ainda levanto cedo todos os dias, lembrei porque chorei como uma criança quando terminei a minha primeira meia-maratona, lembrei porque eu, ao olhar para a rua, seja onde for, sempre vejo uma 'pista' um caminho para as minhas passadas. Lembrei inclusive a razão pela qual eu decidi fazer a inscrição na maratona. Obrigada por isso, Rodolfo. E obrigada, Lá!

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